27 março 2008

"De louco todo mundo tem um pouco"

Luis Fernando Veríssimo

O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.
Durante quarenta anos, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.
O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco. Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses. Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:
Na última quarta-feira, estávamos:
1. Eu
2. Um crioulinho muito bem vestido,
3. Um senhor de uns cinqüenta anos e
4. Uma velha gorda.
1) Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.
2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba". Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.
3) E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.
4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada.. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.
Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista. Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera. Ele ri, ..... ri muito, o meu psicanalista, e diz:
- O Ditinho é o nosso office-boy.
- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.
- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.
- E você... não vai ter alta tão cedo...

26 março 2008

Uma pequena história para pensar!

Durante a visita a um hospital psiquiátrico um dos visitantes perguntou ao diretor:
- Qual é o critério pelo qual vocês decidem quem precisa ser hospitalizado aqui?
Respondeu o diretor:
- Nós enchemos uma banheira com água e oferecemos ao doente uma colher, um copo e um balde e pedimos que a esvazie. De acordo com a forma que ele decida realizar a missão, nós decidimos se o hospitalizamos ou não.
- Entendi - disse o visitante - uma pessoa normal usaria o balde, que é maior que o copo e a colher.
- Não - respondeu o diretor - uma pessoa normal tiraria a 'tampa do ralo'.
- O que o senhor prefere? Quarto particular ou enfermaria ?

Dedicado a todos que escolheram o balde!!! (hahahaha)

Uma das reflexões diz respeito à indução: a resposta não estava nas alternativas propostas.
Muitas vezes somos induzidos por opiniões de gente tida como intelectual ou abalizada, mas que, na verdade, transformam a realidade para se adequar a um pensamento, teoria, criação ou interpretação na forma como lhes convém. Ouvir os outros é preciso, mas usar da própria capacidade de raciocínio é o mais valioso.

22 março 2008

Oração de Chico Xavier

Que eu continue a acreditar no outro
mesmo sabendo de alguns valores tão
esquisitos que permeiam o mundo;
Que eu continue otimista, mesmo sabendo
que o futuro que nos espera nem sempre é tão alegre;

Que eu continue com a vontade de viver,
mesmo sabendo que a vida é, em muitos
momentos, uma lição difícil de ser
aprendida;
Que eu permaneça com a vontade de ter
grandes amigos(as), mesmo sabendo que
com as voltas do mundo, eles(as) vão indo
embora de nossas vidas;
Que eu realimente sempre a vontade de
ajudar as pessoas, mesmo sabendo que
muitas delas são incapazes de ver, sentir,
entender ou utilizar esta ajuda;

Que eu mantenha meu equilíbrio, mesmo
sabendo que os desafios são inúmeros ao
longo do caminho;
Que eu exteriorize a vontade de amar,
entendendo que amar não é sentimento de
posse, é sentimento de doação;
Que eu sustente a luz e o brilho no olhar,
mesmo sabendo que muitas coisas que vejo
no mundo, escurecem meus olhos;
Que eu retroalimente minha garra, mesmo
sabendo que a derrota e a perda são
ingredientes tão fortes quanto o sucesso e a
alegria;

Que eu atenda sempre mais à minha
intuição, que sinaliza o que de mais
autêntico possuo;
Que eu pratique sempre mais o sentimento
de justiça, mesmo em meio à turbulência
dos interesses;
Que eu não perca o meu forte abraço, e o
distribua sempre;
Que eu perpetue a beleza e o brilho de ver,
mesmo sabendo que as lágrimas também
brotam dos meus olhos;
Que eu manifeste o amor por minha família,
mesmo sabendo que ela muitas vezes me
exige muito para manter sua harmonia;
Que eu acalente a vontade de ser grande,
mesmo sabendo que minha parcela de
contribuição no mundo é pequena;

E, acima de tudo...
Que eu lembre sempre que todos nós
fazemos parte desta maravilhosa teia
chamada vida, criada por alguém bem
superior a todos nós!
E que as grandes mudanças não ocorrem
por grandes feitos de alguns e, sim, nas
pequenas parcelas cotidianas de todos nós!

Chico Xavier

20 março 2008

A comemoração, rosto a rosto!!

Ontem, 19, reunimos parte da galera pra comemorarmos os 1000 acessos no Blog!! Aproveitamos o ensejo pra atualizar o papo e, como de costume, curtir um pouco com a cara uns dos outros, afinal, a vida não é só dureza, deve ser lúdica também -- com uma pitada de sacanagem. (se der, claro!) (rs) E, como sempre, o saquê rolou solto, além da melação e restos da comilança. Infelizmente, a única foto até agora permitida publicar foi esta de início de festa. A censura barrou as cenas seguintes, consideradas intrigantes e comprometedoras! (rsrs)

17 março 2008

O mais fino é o melhor?

Mudando de pau pra cassete... ;-)
(atendendo a pedidos)

Será que ser fino o torna melhor?!

Clique aqui e analise.

15 março 2008

Soneto 11 (Luiz Vaz de Camões)


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Renato Russo foi um gênio, que criou obras-primas e mesclou autores e textos maravilhosos em suas músicas... Ele citou este soneto em Monte Castelo: Corintios, 13 + Soneto 11 de Camões.

14 março 2008

A magia da poesia (Vinícius)

Soneto do amor total

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes

Memória (Drummond)

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


13 março 2008

Tributo a Carlos (Elisa Lucinda)

PENETRAÇÃO DO POEMA DAS SETE FACES
(A Carlos Drummond de Andrade)

Ele entrou em mim sem cerimônias
Meu amigo seu poema em mim se estabeleceu
Na primeira fala eu já falava como se fosse meu
O poema só existe quando pode ser do outro
Quando cabe na vida do outro
Sem serventia não há poesia não há poeta não há nada
Há apenas frases e desabafos pessoais
Me ouça, Carlos, choro toda vez que minha boca diz
A letra que eu sei que você escreveu com lágrimas
Te amo porque nunca nos vimos
E me impressiono com o estupendo conhecimento
Que temos um do outro
Carlos, me escuta
Você que dizem ter morrido
Me ressuscitou ontem à tarde
A mim a quem chamam viva
Meu coração volta a ser uma remington disposta
Aprendi outra vez com você
A ouvir o barulho das montanhas
A perceber o silêncio dos carros
Ontem decorei um poema seu
Em cinco minutos
Agora dorme, Carlos.

Elisa Lucinda

Dia da Poesia (14 de março)

PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques, não indagues.
Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentra
dano espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada um a tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Carlos Drummond de Andrade

11 março 2008

Amigos loucos e sérios!

Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.

Marcos Lara Resende

09 março 2008

Abraço!!



ABRAÇO

Existe algo em um simples abraço que sempre aquece o coração;
Dá-nos boas-vindas ao voltar para casa
E torna mais fácil a partida.
Um abraço é uma forma de dividir
As alegrias e tristezas por tudo que passamos,
Ou é uma forma para amigos dizerem que se gostam.
Abraços significam que realmente nos importamos;
Tanto com nossos avós, com nossos vizinhos,
Ou até com um urso amigo.....
Um abraço é algo espantoso.....
É a forma perfeita de mostrar o amor que sentimos,
Mais que palavras, que não podem dizer.
É engraçado como um simples abraço faz-nos sentir bem...
Em qualquer lugar ou língua....
Um abraço é sempre compreendido
E abraços não precisam de equipamentos,
Pilhas ou baterias especiais.
É só abrir os braços e os corações.
Autor Desconhecido

07 março 2008

A hora de ser feliz! (Mário Quintana)

Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-las
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo, nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada em que a gente pode criar
e recriar a vida,
a nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e entregar-se a todos os amores
sem preconceito nem pudor.

Tempo de entusiasmo e coragem
em que todo o desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda disposição
de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO,
e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa.

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